"Melquisedeque, rei de Salém, trouxe pão e vinho; era sacerdote do Deus Altíssimo; abençoou ele a Abrão e disse: Bendito seja Abrão pelo Deus Altíssimo, que possui os céus e a terra; e bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou os teus adversários nas tuas mãos. E de tudo lhe deu Abrão o dízimo." Gênesis 14:18-20.
A mensagem central de nosso artigo está baseada no capítulo 14:18-20 de Gênesis. Antes, porém, necessitamos analisar o contexto, o ambiente e os personagens inseridos nele. Criamos muita confusão quando retiramos o texto sem considerar todo o cenário que envolve o assunto.
ENTENDENDO O CONTEXTO
Após passar algum tempo no Egito, Abrão (este era seu nome antes de Deus mudá-lo para Abraão - Gênesis 17:5) decidiu sair com sua mulher e seu sobrinho Ló, filho de Harã seu irmão.
Abrão tinha muitas posses, possuía muitos rebanhos, além de prata e ouro (Gênesis 13:2). Ele continuou sua jornada até chegar entre Betel e Ai, estabelecendo ali suas tendas.
Ló também possuía muitos rebanhos e os dois habitaram juntos. Houve, no entanto, grande desentendimento entre os pastores de Ló e os pastores de Abrão.
A situação ficou tão insustentável, que Abrão teve que sugerir uma solução radical para o problema:
"Disse Abrão a Ló: Não haja contenda entre mim e ti e entre os meus pastores e os teus pastores, porque somos parentes chegados. Acaso, não está diante de ti toda a terra? Peço-te que te apartes de mim; se fores para a esquerda, irei para a direita; se fores para a direita, irei para a esquerda." Gênesis 13:8-9.
Abrão deixou seu sobrinho escolher o lugar onde iria habitar. Deste modo Abrão, mostrou-se um homem correto e sem ambição.
Ló partiu em direção à cidade de Sodoma (Gênesis 13:12) e Abrão, por sua vez, foi habitar próximo a Hebrom (Gênesis 13:18).
Algum tempo depois, o sobrinho de Abrão foi envolvido pelo conflito entre cinco reis contra quatro. Como consequência dessa guerra, Ló, sua família e seus bens foram capturados (Gênesis 14:11 e 12).
Quando Abrão soube da notícia, reuniu 318 homens prontos para o combate e montou uma operação militar para resgatar seu sobrinho.
Ao utilizarem uma estratégia militar inteligente, Abrão e seus homens conseguiram derrotar o rei Quedorlaomer e seus aliados, conquistando de volta os bens de Sodoma e de Ló, as mulheres e todo o povo (Gênesis 14:15 e 16).
E DE TUDO LHE DEU ABRÃO O DÍZIMO
Houve o encontro entre Abrão, e o rei de Sodoma no vale do Rei. O rei de Salém (antigo nome de Jerusalém) foi também ao encontro de Abrão e lhe ofereceu pão e vinho, além de abençoá-lo (Gênesis 14:17 e 18).
Após a benção, Abrão resolveu dar um décimo dos bens recuperados para o Sacerdote Melquisedeque. A questão fundamental a ser compreendida é: a quem pertencia o “TUDO” que Abrão tirou um décimo e deu ao sacerdote? Abrão deu o dízimo daquilo que não lhe pertencia! Tudo pertencia aos moradores de Sodoma e a Ló seu sobrinho.
Eis a proposta do Reis de Sodoma e a resposta de Abrão:
“Então, disse o rei de Sodoma a Abrão: Dá-me as pessoas, e os bens ficarão contigo. Mas Abrão lhe respondeu: Levanto a mão ao SENHOR, o Deus Altíssimo, o que possui os céus e a terra, e juro que nada tomarei de tudo o que te pertence, nem um fio, nem uma correia de sandália, para que não digas: Eu enriqueci a Abrão.” Gênesis 14:21-23.
O patriarca não ficou com nada, devolveu tudo aos seus respectivos donos! Que honestidade!
Algo mais no dízimo de Abrão que é digno de nota. Além dos bens capturados, muitas pessoas foram levadas prisioneiras como despojos de guerra.
Abrão, portanto, deu o décimo dos espólios resgatados (pessoas e bens que pertenciam a Sodoma), veja o relato do livro de Hebreus:
“Considerai, pois, quão grande era este, a quem até o patriarca Abraão deu os dízimos dos despojos. Hebreus 7:4 - Almeida Revista Corrigida.
Abrão não deu o dízimo daquilo que era seu, mas sim dos outros! Este é de fato, um dízimo peculiar e único.
Em nenhum outro lugar da Bíblia, há registro de alguém oferecendo dízimos de despojos de guerra. Esta foi uma decisão particular e pessoal de Abrão e não constitui mandamento para ninguém mais após ele.
É digno de nota, no entanto, que mesmo Deus ordenou aos israelitas ao conquistarem uma cidade deveriam levar homens, mulheres, crianças e animais como prisioneiros, além dos bens saqueados.
“Disse mais o SENHOR a Moisés: Faze a contagem da presa que foi tomada, tanto de homens como de animais, tu, e Eleazar, o sacerdote, e os cabeças das casas dos pais da congregação; divide a presa em duas partes iguais, uma para os que, hábeis na peleja, saíram à guerra, e a outra para toda a congregação.” Números 31:25-27.
A primeira ordem Deus era que Moisés e o sacerdote Eleazer deveriam contar os espólios e dividir a presa em duas partes iguais. Uma parte para os que foram para a guerra e a outra para o restante do povo.
Da metade que pertencia aos guerreiros, de cada 500 cabeças (tanto homens como animais) deveria ser separa 01 (uma) e dar como tributo ao sacerdote Eleazer (Números 31:28).
Da outra metade que pertencia ao povo, de cada 50 cabeças (tanto de homens e mulheres), 01 (uma) deveria ser separada e oferecida aos levitas (Números 21:30).
Veja a tabela abaixo e entenda:
Da parte dos Guerreiros oferecidas ao Sacerdote Eliazer | Da parte do Povo oferecida aos Levitas |
De cada 500 – 1 | De cada 50 - 1 |
Corresponde a 1% | Corresponde a 0,5 % |
De todos os despojos (homens, mulheres e animais) Deus exigiu uma parte mínima como tributo, jamais dízimo, jamais 10%!
Concluímos, portanto, que o dízimo de Abrão não pode ser utilizado como modelo nos dias atuais. Os que assim procedem, estão cometendo um grave erro.
Na próxima parte desse estudo, analisaremos o dízimo oferecido por Jacó.
Que a graça de Deus abençoe a todos!
Para fazer o download deste artigo acesse o link: